segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Horsens

Qual era o custo de vida?
Na Dinamarca a vida é sem dúvida mais cara que em Portugal e grande parte dos países europeus.
A grande diferença está na prestação de serviços, ou seja, locais como discotecas, restaurantes, cabeleireiros e outros estabelecimentos onde exista alguém a facultar-nos um serviço, independentemente do seu tipo. Estes serviços podem chegar a ser 50-100% mais caros que em Portugal; por exemplo, pint de cerveja num pub por 4€, cocktail numa discoteca por 9€, jantar num restaurante por 25€, corte de cabelo por 25€, cinema por 11€, etc. Embora os transportes sejam, por exemplo, mais caros também, os preços nos supermercados não diferem muito daqueles que são praticados em Portugal. De qualquer maneira, embora o custo de vida na Dinamarca seja bastante superior ao nosso, o nível de vida dos Dinamarqueses é igualmente mais elevado, uma vez que recebem duas ou três vezes mais do que nós em Portugal.

Como aconselhas as reservas de viagens de avião para lá?
Na altura voei para a Dinamarca através de uma companhia low cost de lá (Sterling) que entretanto parece ter sido comprada por outra companhia aérea - http://www.cimber.dk/. A hipótese mais óbvia para um estudante será voar pela Ryanair. O único senão é a limitação de bagagem que a companhia impõe aos clientes. Na minha viagem levei 22kg para um semestre (de Agosto a Fevereiro), embora tenha prolongado a minha estadia para um ano. Fui comprando roupa (preços mais elevados que em Portugal) durante esses meses. É usual enviar comida e roupas através de correio, acaba por ficar mais barato que levar bagagem extra na Ryanair, por exemplo.

Qual o tipo de ensino da faculdade que frequentaste? As aulas eram em inglês ou a língua materna?
O meu período de Erasmus foi feito durante o meu último ano da minha Licenciatura em Engenharia Informática, na universidade Vitus Bering / Via University College em Horsens. Optei por realizar um projecto internacional que me permitiu trabalhar com alunos de outros países e de outras áreas, o que acho ter sido uma mais valia, uma vez que aprendi novas formas de trabalhar e pensar, para além de ter sido bastante interessante trabalhar com pessoas com ideais, línguas e métodos de trabalho diferentes. Para além deste projecto, procurei realizar algumas disciplinas fora do âmbito do meu curso, algo que também achei bastante positivo. As minhas aulas eram todas em inglês, uma vez que a universidade tem um âmbito internacional, algo que sem dúvida facilitou imenso a integração. As aulas tinham também um carácter muito mais descontraído do que aquilo a que estava habituado em Portugal (FEUP), com menor número de alunos e sendo mais práticas, onde inclusivamente os professores não só sabiam os nossos nomes como também não se inibiam de levar cerveja para as aulas nos seus aniversários! Sem dúvida, uma experiência diferente e muito positiva. 

Qual o preço (por mês) da tua residência/casa?
Se não me engano pagava à volta de 350€ por mês numa residência de estudantes acabada de inaugurar, onde cada apartamento tinha 3 quartos individuais, com WC e cozinha comuns. Barato? Não propriamente, mas a residência era bastante boa e apenas para estudantes Erasmus, com 4 pisos a albergar mais de 40 pessoas.

Locais a visitar na cidade e país para onde foste.
  • Copenhaga, a capital, e sem dúvida a cidade mais cosmopolita e com maior diversidade na Dinamarca.
  • Aarhus, a segunda maior cidade e com um ambiente mais estudantil.
  • Aalborg, tem uma vida nocturna bastante interessante, com uma de rua de bares bastante famosa.
  • Skagen, o ponto mais a norte da Dinamarca, onde o Mar Báltico e o Mar do Norte se cruzam.
  • Billung/Legoland, um ponto de passagem quase obrigatório para quem visita o país.
Como viajaste para outros países?
Curiosamente só viajei para a Alemanha, Polónia e Portugal durante o meu período de Erasmus. De qualquer maneira, o site http://www.rejseplanen.dk/bin/query.exe/en? é uma excelente escolha para planearem as vossas viagens dentro da Dinamarca. Para a Alemanha e Polónia viajei de comboio -http://www.bahn.com/ - e autocarro, respectivamente.

Que tipo de clima havia? Conselhos...
O clima na Dinamarca durante o verão é ameno, entre os 20 e 30 ºC e de Inverno bastante frio, entre os -10 e 5 ºC. Embora de Inverno haja neve e faça bastante frio, acaba por tornar-se mais suportável viver na Dinamarca durante este período do que até mesmo em Portugal, uma vez que o país está totalmente preparado para este período, com todos os prédios e transportes dotados de aquecimento central. Uma vez que durante o Inverno (e até mesmo no Outono) a temperatura  exterior é bastante fria e a interior quente, não é necessário vestir muito mais que umas calças, t-shirt e um casaco quente e cachecol. Não esquecer calçado e roupa interior :) Os dias são bastante incertos: tanto pode estar um sol radiante e chover passado alguns minutos, como pode estar um céu completamente nublado e passado uns instantes ficar um dia bem mais agradável. Imaginem um clima tropical, mas bem menos quente :)

Dicas úteis.
  • Tudo o que sejam garrafas e até mesmo latas com retorno, podem ser devolvidas no supermercado, onde recebem uma quantia simpática pelas mesmas.
  • Principalmente em Copenhaga, tenham cuidado com a vossa bagagem e mochilas de portátil nos comboios. Mantenham as vossas coisas sempre à vista e próxima de vocês, se possível debaixo do vosso banco.
  • Se pretenderem trabalhar, existem vários trabalhos em part-time onde ganham quantias muito simpáticas - desde 15/20€ diários - por exemplo, a carregar material em fábricas ou a limpar quartos de hotel.
Pontos fortes e fracos
Pontos positivos: A Dinamarca é um país bastante organizado, onde não existe pobreza, com um nível de vida muito elevado. Toda a gente fala inglês, independentemente do seu emprego ou posição na sociedade. As pessoas em geral são simpáticas e confiam bastante umas nas outras, ao ponto de deixarem, por exemplo, bicicletas na rua sem cadeado!

Pontos negativos: Para muita gente o clima. Sinceramente, não tenho razões de queixa, uma vez que grande parte dos dias durante o Inverno são passados no interior de edifícios, onde facilmente se anda de t-shirt, devido à vulgaridade dos aquecimentos centrais. Nunca tinha vivido num país em que nevasse durante parte razoável do Inverno e, pessoalmente, foi uma experiência bastante interessante.

Observações especiais sobre o ERASMUS e/ou o país para onde foste.
Vou responder a esta questão com um texto que escrevi para o meu blog de Erasmus - http://danny-horsens.blogspot.com - e que descreve em alguns parágrafos o meu ano e a minha experiência Erasmus. Para quem ainda não foi e está a pensar em ir... não pensem duas vezes! Se tiverem questões relacionadas com Erasmus, Erasmus Student Network (ESN) e a Dinamarca, podem entrar em contacto comigo através do blog. Boa sorte!
Aquando de uma sessão de apresentação dos vários programas de mobilidade internacional para estudantes universitários, ficou-me na memória uma frase que um estudante proferiu: "ERASMUS devia ser obrigatório". Há dois anos atrás, poucos meses antes do maior desafio e melhor experiência da minha vida, via o programa de mobilidade ERASMUS como algo que não era para todos e que, possivelmente, não o seria também para mim. Talvez os ERASMUS fossem estudantes diferentes, com gostos, valores e atitudes diferentes, e talvez eu não estivesse incluído nesse grupo. Talvez isso fosse e seja ainda verdade, talvez não. Talvez, simplesmente, esses estudantes tenham tomado uma decisão que outros tiveram medo de tomar ou adiaram constantemente, ou talvez sejam mesmo diferentes duma significativa percentagem de universitários a que o programa ERASMUS pouco lhes diz. Dois anos depois de ter presenciado essa sessão e de ter tomado umas das decisões mais acertadas até hoje - candidatar-me ao programa ERASMUS -, tenho a perfeita noção e o orgulho de poder dizer "sim, o ERASMUS foi mesmo para mim", e de ter presente que, de todas as minhas experiências, esta foi, sem dúvida, a que mais me marcou e mais me fez crescer a todos os níveis.





ERASMUS é acima de tudo uma experiência de vida, um percurso que vamos construindo por nós mesmos, com a realização de o ver evoluir a cada dia que passa. Viver num país diferente, numa casa diferente, com pessoas diferentes, com amigos diferentes, a falar uma língua diferente, numa escola diferente, com um tempo diferente, comida diferente, horários diferentes, hábitos diferentes e, acima de tudo, num estilo de vida completamente diferente, faz-nos aprender, faz-nos crescer e muda-nos. Tudo aquilo que damos como certo e trivial no nosso dia-a-dia facilmente se altera, e somos obrigados a adaptar-nos, a evoluir e a ter uma percepção diferente do que nos rodeia.

As vantagens de um programa de mobilidade são inúmeras. Tudo o que é vivido em ERASMUS reflectir-se-á na nossa vida, a nível pessoal e a nível interpessoal, a nível doméstico e a nível empresarial. A descoberta, a integração, as diferentes culturas, as amizades, as experiências, a independência, a superação de obstáculos, contribuem de uma maneira única para o crescimento pessoal e para o modo de ver o mundo. Em ERASMUS criam-se relações com pessoas de outros países que jamais se criariam noutros contextos. Desde logo, é-se obrigado a falar uma língua estrangeira - em grande parte dos casos, o Inglês - diariamente, durante seis meses ou um ano, solidificando de uma maneira prática aquilo que se foi aprendendo desde os primeiros tempos de escola. Aprendemos novos valores ao interagir no dia-a-dia com novas culturas, o que nos dá desde logo uma maior abertura social e facilidade em cooperar com pessoas dos mais variados países ou culturas, sabendo em antemão como lidar com indivíduos com ideais tão variados. Realizando projectos ou trabalhos em grupo com estudantes de diferentes países - ou até mesmo, adicionando a realização de um estágio curricular no estrangeiro -, obriga os estudantes a colocar em prática os seus conhecimentos e qualidades, complementando os seu percurso no que diz respeito à integração e experiência internacional, dando-lhes desde logo uma preparação adicional que outros alunos universitários não possuem.

O mundo que vivemos é cada vez mais global, sendo as relações sócio-culturais essenciais, para a unificação das pessoas que nele habitam e para a criação de laços que podem ser de extrema importância nos mais variados contextos. O facto de estarmos sozinhos num país diferente e a vivermos à nossa conta, superando os nossos próprios obstáculos e vivendo as aparentes dificuldades do dia-a-dia - que se vão transformando em aspectos triviais - faz-nos pessoas mais autónomas, mais proactivas, mais dinâmicas e com um maior sentido de responsabilidade. As relações criadas durante um período de estudos como este são fundamentais para quem deseja ser um cidadão da Europa ou do mundo, através da grande variedade de contactos criados, com amizades que ultrapassam fronteiras e nos tornam universais.

Todas estas vivências, em tão curto espaço de tempo, irão elucidar-nos daquilo que é importante na nossa vida, a nível pessoal e a nível profissional. São experiências que jamais esqueceremos e que nos enriquecem como nada mais o pode fazer.

Após um semestre no programa ERASMUS e os restantes seis meses a realizar estágio curricular numa empresa multinacional em Horsens, Dinamarca, o meu último dia neste país irá ficar guardado na minha memória por muito mais tempo, com um sentimento morno que me acompanha em cada dia que passa e me diz "Fiz ERASMUS, adorei e jamais esquecerei". É uma experiência absolutamente inesquecível, unicamente enriquecedora, e todos deviam vivê-la.


Daniel Silva

1 comentário:

Andreia disse...

Adorei as observações finais!
Tudo o que escreveste é tudo o que eu espero encontrar!
=D
Bjinhos***